O Brasil foi o maior exportador de café do mundo na última safra, exportando um volume de 40,6 milhões de sacas. Porém, pensar somente em volume produzido pode ser um erro para o produtor brasileiro, ou seja, ele precisa pensar em ir além de permanecer na commoditização do café.
Tratar o café como um commodity é sim importante, pois representa a garantia de receita em razão da elevada escala. Já que quanto mais o cafeicultor produz, mais ele lucra. Mas a realidade está mudando e o produtor pode lucrar com a qualidade diferenciada também.
No Brasil e em todo o mundo, os consumidores, junto com a paixão pela bebida, desenvolveram também o hábito de apreciar uma boa xícara de um café diferenciado - e atendê-los pode ser um ótimo diferencial.
Veja então quais são os riscos de permanecer na commoditização do café e porque pensar além pode ser uma boa opção para cafeicultores brasileiros.
Café tratado apenas como commodity: Por que é um risco?
Na atualidade, tanto o consumidor brasileiro quanto de outros países que consomem café, estão em uma realidade diferente e mais seletivos. De duas décadas para cá, o segmento de cafés especiais cresceu significativamente, tanto que hoje já representa 12% do mercado internacional do produto.
Para Vanusia Nogueira, diretora da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, sigla em inglês), este cenário mostra que o mercado está mudando e o consumidor está mais exigente.
“Quando pensamos em um mercado cada vez mais exigente, sedento por histórias de pessoas, produtores, propriedades e produtos de qualidade, focar apenas em commodity é o mesmo que permanecer na vala comum”, diz.
No caso específico da commoditização do café, segundo a diretora da BSCA, estar na vala comum é estar sujeito à precificação que o mercado oferece embasado em seus fundamentos e à volatilidade das cotações. “Estes, por muitas vezes, não são benéficos ao produtor”, explica.
Além disso, tratar o café apenas como commodity também pode trazer consequências desagradáveis para o cafeicultor brasileiro, como ela mesma ressalta.
“A commoditização do café, além dos riscos inerentes às oscilações de preço do mercado, muitas vezes também influenciado pela macroeconomia, que se sobrepõe sobre os fundamentos técnicos, praticamente torna o produtor 'refém' do que esse mercado oferece”.
Assim, por muitas vezes, salvo cenário em que há alguma quebra significante de produção, essa “oferta do mercado” resulta em altos custos de produção, além de baixas cotações pelo produto final, inviabilizando a atividade cafeeira focada apenas em commodity.
Esteja alinhado a esse cenário e vá além da commoditização do café
Assim como ocorre com muitos outros produtos agrícolas, o café tem clientes para todos os tipos e padrões de qualidades.
Diante desse cenário, a diretora da BSCA entende que há espaço para os cafés convencionais, commodities e brasileiros, desde que entreguem excelente qualidade. Vanusia também ressalta que os investimentos que o Brasil faz em pesquisa e tecnologia permitem que o produtor brasileiro amplie produtividade, melhore a qualidade e obtenha variedades mais resistentes a pragas e doenças.
Entrando direto no cerne da questão, o nicho de cafés especiais representa um diferencial enorme aos produtores desse tipo de café. “Com capacitação e investimentos no aprendizado adquirido, da pré à pós-colheita, o produto especial que os produtores colherão apresentará valores muito acima do preço dos cafés convencionais”.
Usualmente, uma saca de café especial parte de uma cotação pelo menos 50% superior à do café commodity e, em certas ocasiões, atinge patamar substancialmente superior.
Vanusia dá o exemplo dos cafés brasileiros vencedores do Cup of Excellence - principal concurso de qualidade para cafés especiais, realizado no Brasil pela BSCA. “Já tivemos cafés especiais que foram vendidos a cerca de R$ 73 mil por cada saca de 60 kg”, complementa.
Para efeito comparativo, o mercado convencional paga aproximadamente R$ 500,00 por saca.
Café especial não é commodity
É importante que o produtor saiba que os cafés especiais não são commodity. Mas, por que não há a commoditização de um café especial? A explicação é simples e é dada por Vanusia.
“Os cafés especiais são isentos de impurezas e defeitos e possuem atributos sensoriais diferenciados, que incluem bebida limpa e doce, corpo e acidez equilibrados, tratá-los como commodity é impensável”.
Além da qualidade intrínseca, a não commoditização de um café especial se explica à medida que este café exige rastreabilidade certificada, além de respeito aos critérios de sustentabilidade ambiental, econômica e social em todas as etapas de produção.
Outro diferencial é o “espírito” existente no segmento do café especial. “Ele tem relacionamento muito mais pessoal, de pessoa a pessoa, diferente da relação da commodity, que envolve muitos traders”, finaliza Vanusia.
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