Enfim a época mais colorida do ano chegou: a primavera! E este é o momento mais propício para falar sobre o cultivo de flores no Brasil.
Desde as mais simples até as mais sofisticadas, exóticas e até comestíveis, o potencial do cultivo de flores no Brasil é imenso, com uma grande variedade de espécies que agradam a todos os gostos de consumidores no Brasil e em todo o mundo.
Para entendermos como é a produção de flores no nosso país, convidamos Nereu Augusto Streck, coordenador da Equipe PhenoGlad da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e Walter Winge, presidente da AFLORI – Associação Riograndense de Floricultura e vice-presidente do Ibraflor – Instituto Brasileiro de Floricultura.
Com vasta experiência no setor, estes profissionais fazem uma abordagem completa sobre o mercado e o cultivo de flores no Brasil. Confira!
Qual a importância da floricultura no Brasil?
Por suas características, o Brasil tem potencial para alcançar posição de destaque no ramo do cultivo de flores. E os números mais recentes do Censo Agropecuário relacionados ao setor mostram isso.
De acordo com o IBGE, existem atualmente 8 mil produtores de flores e de plantas ornamentais no país. Esses produtores cultivam mais de 2,5 mil espécies com valor comercial e 17,5 mil variedades, segundo os dados do setor.
Além disso, um estudo inédito realizado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com o Ibraflor, mostra que o PIB da cadeia de flores e plantas ornamentais foi de R$ 7,16 bilhões em 2017. “Esse valor do PIB corresponde a 0,53% do PIB do agronegócio nacional”, complementa Walter Winge. Além do mais, toda a cadeia e serviços gerados no setor movimentaram R$ 14,6 bilhões.
A floricultura gera renda dentro e fora da porteira
O estudo do CEPEA/Esalq mostrou que o PIB gerado dentro da porteira, em flores e plantas ornamentais, somou R$ 1,67 bilhão em 2017, correspondendo a 23% do total da cadeia.
Já o PIB per capita foi estimado em R$ 35,3 mil, 76% superior à média da agropecuária. Esses valores mostram a elevada agregação de valor por trabalhador na atividade, que é formada predominantemente por pequenos estabelecimentos familiares e intensiva em tecnologia. Fora da porteira, nota-se também a agregação de valor: o comércio e os serviços (exceto agrosserviços) geraram PIB de R$ 2,19 bilhões, o que corresponde a 31% do total.
Quais são os polos de produção de flores no Brasil?
Grande parte dessa renda gerada no setor é obtida por alguns polos de cultivo de flores no Brasil, com destaque para o estado de São Paulo, que lidera o ranking tanto de produção quanto de consumo nacional de flores e plantas ornamentais. O estado se caracteriza pela evolução tecnológica e organização do setor.
Os principais polos produtores de flores no Brasil são:
- São Paulo: possui grande produção nas regiões de Holambra, Atibaia, Arujá e Registro;
- Santa Catarina: as regiões de Corupá, Joinville e São Bento do Sul se destacam;
- No estado do Rio Grande do Sul, a região do Pareci Novo merece destaque.
Além disso, regiões dos estados de Minas Gerais, Ceará e Rio de Janeiro também se destacam no cenário da floricultura brasileira.
Quanto à exportação, o Brasil mostrou recuperação após um período de declínio. Segundo dados do Agrostat, nos primeiros três meses de 2021 foram exportadas 270 toneladas de plantas vivas e produtos de floricultura, o que representou um total de US$ 2,3 milhões.
Este quantitativo foi 92% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, quando foram exportadas 141 toneladas. Em comparação com o mesmo trimestre de 2019, foram escoadas 155 toneladas de produtos, representando um acréscimo de 75%.
Para quais países o Brasil exporta flores?
Nos três primeiros meses de 2021, os principais destinos de flores brasileiras foram Uruguai, Estados Unidos e Países Baixos.
Pela proximidade geográfica e ausência de barreiras tarifárias, a exportação de flores para os países do Mercosul também é favorecida.
Principais flores cultivadas no Brasil
Os mais de 8 mil produtores brasileiros cultivam uma grande variedade de flores e plantas ornamentais, sejam elas de corte ou flores comercializadas em vasos. “Floricultores brasileiros produzem flores de corte, rosas e alstroemerias”, comenta Nereu Streck.
No caso das flores de corte, a lista é liderada por rosas, crisântemos, alstroemerias, lírios e lisianthus. Sem dúvidas, as rosas são ainda as mais cultivadas e consumidas, mas a astromélia também tem crescido fortemente.
Dentro da vasta lista das flores comercializadas em vasos, as campeãs em produção e vendas são as orquídeas (sendo a phalaenopsis a mais cultivada), kalanchoe, crisântemos e antúrios.
Brasil também importa orquídeas e material genético
A demanda pelas variedades de orquídeas é muito grande, e isso é evidenciado pelos dados de importação. Em 2020, mesmo diante da pandemia e alta do dólar, o Brasil importou mais de US$ 20 milhões em orquídeas, sendo 64% das importações originárias da Holanda.
Segundo Walter Winge, o Brasil importa também muito material genético das empresas detentoras de novas variedades. “Estes materiais genéticos vêm dos Estados Unidos, países da Europa e da Ásia”, complementa. Importamos também, principalmente, rosas Colombianas e Equatorianas.
Cultivo de flores e agricultura familiar: relação que rende bons frutos
Por se tratar de uma atividade com grande capacidade de geração de renda, variando de 50 mil a 100 mil reais por hectare cultivado ao ano, a floricultura se mostra muito atrativa para agricultores familiares.
No Brasil, Streck salienta que agricultores familiares utilizam espécies de plantas com alta produtividade por unidade de área, e com isso obtêm bons resultados. “O girassol de corte é um exemplo claro disso. Com ele, a família pode colher de 30 a 40 flores por metro quadrado”.
O coordenador da Equipe PhenoGlad da UFSM cita o projeto “Flores para Todos” como exemplo. “Dentro do projeto há uma família em Cachoeira do Sul - RS, a Capital Nacional do Arroz e o segundo maior produtor de soja no Rio Grande do Sul, que em sua propriedade de 0,5 hectares (5 mil metros quadrados) vive da produção de flores”, explica Streck.
Dessa forma, para produtores familiares, o cultivo de flores tem a capacidade de gerar boa rentabilidade em pequenas áreas. A atividade também permite alta absorção de mão de obra.
Como desvantagens, a perecibilidade do produto é o maior problema. Para contornar isso, é preciso realizar elevados investimentos na etapa pós-colheita, principalmente na armazenagem e nas embalagens que reduzam os danos mecânicos e a perda excessiva de água.
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