O agronegócio brasileiro é reconhecido como um dos maiores produtores de grãos do mundo, com uma produção recorde de 271,2 milhões de toneladas na safra 2021/22, segundo dados da Conab. Porém, mesmo diante destes números, ainda estamos com um déficit preocupante na área de estocagem de grãos.
Apenas em 2022, a capacidade de armazenagem brasileira de grãos deve ter um déficit que em torno de 89 milhões de toneladas, segundo levantamento divulgado pela Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio.
Este cenário é preocupante, principalmente diante das perspectivas de safras recordes constantes para os próximos anos. A própria empresa de consultoria indica que teremos um déficit de armazenamento de grãos de 130 milhões de toneladas já no ano que vem.
Diante disso uma coisa é clara: é preciso agir e adquirir conhecimento sobre a importância do armazenamento.
Por isso, convidamos você a entender quais são as consequências do déficit no armazenamento de grãos, assim como conhecer algumas dicas para um melhor armazenamento da sua colheita. Confira!
Falta de armazenamento de grãos gera consequências em várias vertentes
A técnica de armazenamento de grãos tem o objetivo de preservar os grãos produzidos desde a colheita até a distribuição.
Exatamente por isso, Daniel Belani, Gerente de Vendas Grãos, da divisão Grãos e Proteína da AGCO América do Sul, explica que a armazenagem faz parte do negócio de produção de grãos.
“Se você não considerar a armazenagem no seu planejamento, você pode acabar frustrando suas expectativas de ganhos ou a própria viabilidade econômica do negócio”, diz.
A armazenagem é agregação de valor, ou seja, ela faz parte da composição de custos da produção e, também, da estratégia agronômica. “A depender da região e do clima, não ter armazenagem na colheita pode significar a impossibilidade de escoar a produção, causando danos como a piora da qualidade ou a perda do grão”, complementa Belani.
Assim, as principais consequências da falta de um armazenamento eficaz de grãos são:
- A qualidade dos grãos é reduzida drasticamente, prejudicando a comercialização;
- Nosso agronegócio perde competitividade e mercado externo;
- Exige que agricultores tenham que escoar rapidamente a produção, deixando-os reféns do serviço de transporte e dos altos fretes cobrados nesse período.
Benefícios do armazenamento de grãos
Como vimos, os problemas relacionados à ineficiência da armazenagem de grãos culminam principalmente em queda de qualidade e comprometimento da comercialização do produto.
Mas, quando a armazenagem é feita da forma correta, os benefícios serão expressivos, tais como:
- Melhor planejamento do plantio da lavoura. “Você não vai depender da estratégia de plantio do vizinho, que poderá ocupar o mesmo serviço de armazenagem dos cerealistas e cooperativas da região”, indica Belani;
- Definição da melhor estratégia de colheita, a depender do clima. “O produtor poderá postergar ou antecipar a colheita, sabendo que vai poder tratar o seu grão dentro da fazenda, independentemente do clima”.
- Fluxo rápido de colheita, sem deixar caminhões na fila, que vão deteriorar a qualidade do grão, sem tratamento adequado.
Os armazéns de grãos também contribuem com a estratégia agronômica do agricultor, como explica Belani. “Existem análises que mostram que, nas regiões que fazem segunda safra, para cada dia que você antecipa o plantio do milho de segunda safra, a produtividade aumenta na ordem de uma saca por hectare”.
Então, tendo uma armazenagem que possibilita antecipar o processo de colheita da primeira safra ou da soja, o produtor consegue aproveitar melhor a janela de plantio, com produtividade superior.
Além disso, há os benefícios tradicionais na ordem agronômica, como:
- A questão da impureza: considerado um item de desconto, passa a ser um item de receita, pois o produtor pode destinar internamente na fazenda para um confinamento de gado ou para uma compostagem, permitindo diversas aplicações com retorno para o agricultor;
- O produtor pode comercializar a safra em lotes, na época em que quiser;
- Com armazenagem própria, o produtor tem a posse da sua produção, o que gera maiores possibilidades tanto no aspecto da segurança da operação quanto no melhor momento para comercialização do grão.
“Esses benefícios fazem uma grande diferença em tempos como o que estamos vivendo, com crescimento dos custos de produção, dado o preço de insumos e fertilizantes. Ter o próprio armazém, permite agregar essa diferença de valores na margem da produção, no lucro da operação”, garante o gerente de Vendas Grãos, da divisão Grãos e Proteína da AGCO América do Sul.
Tipos de armazéns de grãos mais comuns no Brasil
Agora que você já sabe quais são os benefícios da armazenagem de grãos na fazenda, chegou a hora de conhecer os tipos mais comuns dessas estruturas:
1. Silos metálicos
Esse é o sistema tradicional mais utilizado no Brasil. Suas vantagens são:
- Possibilita um sistema de aeração mais eficiente;
- Flexibilidade de separação dos lotes de armazenagem mais adequados para apartar os grãos por tipo, qualidade e épocas de colheita.
2. Modelo horizontal ou graneleiros
O modelo horizontal tem como estilo de construção o fundo plano, fundo V ou semi-V.
A decisão por uma dessas opções vai depender da viabilidade econômica, da preferência de operação e das condições de terreno (profundidade e altura de lençol freático, o que limita a quantidade de escavações que podem ser feitas).
Segundo Belani, a decisão de escolha entre silos metálicos ou armazém graneleiro passa basicamente por uma análise da viabilidade econômica e payback (tempo de retorno do investimento).
“A construção de armazéns graneleiros tende a ser mais viável do que de um silo metálico, quando ele fica numa escala de tamanho muito grande, para a partir de 1 milhão de sacas, por exemplo. Além disso, em uma produção desse porte, o produtor normalmente não tem necessidade de separar em pequenos lotes”, explica o gerente da AGCO América do Sul.
3. Armazenagem temporária, especificamente em silo-bolsa
Esse tipo de armazenagem tem uma relevância muito grande dentro do agronegócio brasileiro porque tem salvado uma parte importante da safra, que em algumas regiões ainda fica armazenada a céu aberto.
O silo-bolsa tem como função principal guardar, ainda que de maneira mais precária, os grãos. Seu uso deveria ser temporário, mas, diante do déficit de armazenagem, é a única opção em muitas propriedades.
Dicas para fazer um armazenamento de grãos eficiente na fazenda
A armazenagem de grãos tem como grande propósito preservar a qualidade do grão. Partindo deste princípio, é preciso limpar, secar e guardar esse grão em um ambiente onde haja condições de monitorar e executar ações de preservação do produto ao longo do tempo, durante o período que se deseja armazenar.
Assim, quando o produtor decide ter sua armazenagem na fazenda, Belani explica que é fundamental:
- Buscar os conhecimentos para cuidar desse grão durante o período definido;
- Ter noções claras de qual é a umidade com a qual o grão pode ser guardado;
- Considerar a temperatura em que ele pode ser armazenado;
- Manejar bem o armazém e todas as suas variáveis;
- Ter maiores conhecimentos sobre secagem e conservação de grãos.
“A secagem é uma parte muito importante, pois está se preparando o grão para ser armazenado e, se não secar adequadamente, o grão pode se deteriorar durante a armazenagem, ou pode-se perder dinheiro por secagem em excesso”, complementa o gerente da AGCO.
Por fim, o armazenamento de grãos não é um capricho, nem um fator de embelezamento da propriedade. A armazenagem faz parte da estratégia do agronegócio, então precisa ser bem analisada e bem dimensionada tanto nos aspectos técnicos quanto econômicos.
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