Diz a metodologia de planejamento que a visão do todo, antes do detalhe, representa o olhar estratégico, fundamental às questões que levam ao desenho das táticas e ao posterior plano operacional. Tudo isso fica mais complexo quando a velocidade das mudanças no mundo segue acelerando e dificultando a visão prospectiva lançada sobre uma conjuntura volátil e câmbios estruturais em ajustes constantes.
Antes mesmo da pandemia já se sentiam os impactos desse processo, acelerado pelas mudanças tecnológicas durante esse flagelo e, agora, ainda maior com o conflito Rússia/Ucrânia.
Os objetivos globais fundamentais sobre a necessidade de mitigação e adaptação às mudanças climáticas visando consolidar uma economia de baixa emissão de carbono na agricultura, seguem fortes e gerais, sofrendo em 2022 as contradições globais trazidas pelo conflito citado.
A lógica do problema “aquecimento global” surge pela intensificação das atividades humanas desde o século XIX, com a chamada Revolução Industrial. De lá para cá, o aumento das emissões de gases do efeito estufa à atmosfera, em especial o CO2, traz preocupações reais ao planeta Terra. Planejar e agir sobre a mitigação das emissões será essencial, com o senso de urgência requerido e caracterizado na última reunião da COP 26 realizada em Glasgow.
As contradições vindas da guerra Rússia/Ucrânia estão ligadas à volta dos temores relativos à insegurança alimentar e à energética por uma série de razões decorrentes da complexidade da logística desde a pandemia, agravada pelas sanções à Rússia e o bloqueio dos Portos locais.
A visão estratégica aos países se refere à segurança alimentar, ao desenvolvimento socioeconômico e à preservação ambiental. É assim que no Brasil entende e se trabalha as estratégias de ação do seu agronegócio.
A agropecuária no mundo tropical requer múltiplas possibilidades, nos seus vários ambientes de produção, assim como deve se preocupar com a questão relativa à mudança no uso da terra. Os estoques de carbono, a vegetação existente nos sistemas antropizados estão a requerer quantificação e ações tanto no campo da recuperação de áreas degradadas como no processo de cultivo. O plantio direto, o uso de adubos verdes, ambos buscando o aumento dos teores de carbono orgânico; a melhoria da biota dos solos; a eficiência no uso da água; a digitalização e a mecanização agrícola com tecnologia embarcada, em links diretos na geoespacialização, via modelos matemáticos; a expansão do uso do modelo ILPF – integração lavoura, pecuária e floresta, com várias safras anuais; a bioenergia e seus impactos na descarbonização, são as ferramentas ao alcance do produtor brasileiro, já com grande impacto na redução das emissões dos gases de efeito estufa.
Na mesma linha segue a produção de carnes em uma pecuária que desafia o produtor na busca de readequar e otimizar sua produtividade, mitigando as emissões de gases. A carne de baixo carbono é, por exemplo, uma marca que valoriza esse esforço. A redução das emissões de gases do efeito estufa se dá por unidade de produto (animais) com menor idade de abate, maior ganho de peso no tempo e menor produção de metano; maior taxa de lotação nas áreas de produção e maior produtividade são impactos positivos diretos.
No campo da agroenergia, a integração da cana-de-açúcar com milho, soja e outras leguminosas segue a mesma lógica e se expande rapidamente. A introdução da cana, por exemplo, em áreas de pastagem degradada será fundamental para ganhos de produtividade em etanol e no uso dos resíduos com produção de bioeletricidade, biogás e biometano, em substituição de combustíveis fósseis. Há, portanto, o papel da ciência e o das políticas públicas, como a lei dos combustíveis renováveis – RenovaBio, o Programa ABC, o Combustível do Futuro, entre outros.
Recuperar pastagens, em solos degradados, aumentando o estoque de carbono no solo; integrar lavoura, pecuária e floresta, com efeitos sinérgicos ao agrossistema; plantio direto na palha, com a conservação do solo e da água; a fixação biológica do nitrogênio (fábrica biológica segundo a Embrapa); florestas plantadas capturando CO2; uso de resíduos agroindustriais e dejetos animais; etanol, biodiesel e biogás/biometano em agroenergia integrada, são exemplos que o Brasil dá ao mundo.
O momento global vivido tem trazido contradições importantes: países ricos que cobram a redução do desmatamento no Brasil estão estimulando os seus agricultores a plantar em áreas de preservação. Da mesma forma, está crescendo o uso do carvão mineral para a produção de energia. Espera-se que seja uma questão conjuntural.
Por Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Presidente da ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio
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